A Polícia Civil de São Paulo finalizou o inquérito sobre o contrato de patrocínio entre o Corinthians e a casa de apostas VaideBet, revelando um complexo esquema de desvio de verbas, uso de empresas de fachada e possíveis vínculos com o Primeiro Comando da Capital (PCC). De acordo com o relatório, quatro pessoas foram indiciadas: Augusto Melo (presidente afastado do clube), Sérgio Moura (ex-superintendente de marketing), Marcelo Mariano (ex-diretor administrativo), Yun Ki Lee (ex-diretor jurídico) e Alex Cassundé (intermediário no acordo). Todos respondem por associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto qualificado.
Além disso, o inquérito indicia quatro ex-dirigentes corinthianos: Sérgio Moura (marketing), Marcelo Mariano (administração), Yun Ki Lee (jurídico) e Alex Cassundé, intermediário ligado à empresa Rede Social Media Design. Todos foram denunciados por associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro. A Polícia sustenta que os pagamentos feitos pelo clube à suposta intermediadora foram, na verdade, desviados e posteriormente redirecionados a empresas fantasmas.
De acordo com o relatório, o dinheiro transferido pelo Corinthians à Rede Social Media Design percorreu contas de empresas sem atividade real, como Neoway, Wave e Victory. Por fim, os valores chegaram até a UJ Football Talent, agência de intermediação esportiva que, embora tenha sido apresentada como parte legítima do contrato, não participou efetivamente de nenhuma negociação.
O documento policial afirma que esse desvio não ocorreu por acaso. Segundo a Polícia, o dinheiro chegou à UJ Football como retribuição por compromissos financeiros assumidos por Augusto Melo durante sua campanha presidencial no clube, em 2023. Esse ponto, aliás, reforça a tese de que o esquema planejou saldar dívidas eleitorais e beneficiar aliados estratégicos.
Ainda segundo o inquérito da VaideBet, Cassundé, responsável pela intermediação, repassou R$ 1 milhão à Neoway. A empresa, porém, pertence a Edna Oliveira dos Santos, moradora de Peruíbe, que afirmou desconhecer qualquer movimentação em nome dela. Em paralelo, a Polícia constatou que Cassundé esteve no Parque São Jorge no mesmo dia da transação bancária, levantando mais suspeitas.
Campanha eleitoral, conexões políticas e VaideBet
Além dos rastros financeiros, o relatório se apoia em depoimentos e documentos públicos para desenhar uma rede de favorecimento que remonta à campanha de Melo. O ex-diretor de futebol Rubão, prestou dois depoimentos, em que confirmou a entrada de dinheiro no clube por meio de empresários com ligações questionáveis. As autoridades receberam uma denúncia anônima, ainda em 2023, que apontava doações feitas por figuras ligadas ao futebol de base e ao mercado paralelo da bola.
Entre os citados estão nomes como Marino Rosa, influenciador digital Buzeira, Roberto da Magnum e até um doleiro da zona leste de São Paulo. Todos, conforme as investigações indicam, teriam contribuído com a campanha de Melo em troca de vantagens futuras. O que reforça a tese de corrupção estrutural dentro do clube.
Além disso, a Polícia identificou ligações de pessoas próximas à gestão de Melo com a UJ Football. Haroldo Dantas, presidente do Conselho Fiscal, manteve parceria com a agência. Marcos Bocatto, ex-superintendente de novos negócios, aparece como articulador de doações oriundas do futebol de base. Durante a oitiva, Augusto Melo respondeu evasivamente às perguntas sobre Bocatto, apesar dos registros públicos mostrarem a proximidade entre eles.
Por fim, a Polícia Civil encaminhou o relatório ao Ministério Público, que agora decidirá se denuncia os envolvidos à Justiça ou se arquiva o caso. Embora o Corinthians não tenha se pronunciado oficialmente, o escândalo já causa impactos significativos dentro e fora dos bastidores do clube. A VaideBet, principal patrocinadora, rescindiu o contrato em junho do ano passado, e o desgaste institucional se aprofundou.
A investigação, portanto, não apenas expõe irregularidades administrativas, mas também levanta questões sobre a governança e a responsabilidade em relação ao patrimônio do clube. O futuro político e financeiro do Corinthians, agora, depende diretamente dos desdobramentos judiciais.